Horrores da guerra são retratados no espetáculo “Diga que você está de acordo! MÁQUINA FATZER”
Horrores da guerra são retratados no espetáculo “Diga que você está de acordo! MÁQUINA FATZER”

Em um espaço de carga cromática ocre, o vermelho intenso jorra como sangue pelo rosto dos personagens. O clima de tensão e o som de sirene constantes denunciam: ali estamos em um cenário de guerra. Soldados confinados em uma cabana integram a aura do espetáculo “Diga que você está de acordo! MÁQUINA FATZER”, da companhia cearense Teatro Máquina. A peça foi encenada no dia 16, no Teatro Adalberto Vamozi, no Crato.

Inspirada em um texto inacabado do dramaturgo alemão Bertold Brecht, a peça retrata a tentativa de sobrevivência, dentro de uma cabana, de quatro soldados fugitivos, na 1ª Guerra Mundial. Um ambiente imerso em atritos e violência envolve os soldados, que seguem os dias na tentativa de viver na clandestinidade. A adaptação é fruto da pesquisa de doutorado da diretora, Fran Silveira, sobre o texto de Brecht. “Há tempos trabalho Brecht e quis pensar algo sobre esse texto inacabado dele. Creio que esse assunto da guerra nos toca a todos, então a gente não tem muito uma preocupação em uma comunicação direta. Falamos, inclusive, da dificuldade de comunicação. Por isso essa estética, tudo meio confuso, algo que não se acaba, assim como o texto que nunca foi terminado”, comentou a diretora.

Para se chegar à proposta cênica que hoje sobe ao palco, a companhia trabalhou em uma residência artística ao longo de um ano, no Laboratório Porto Iracema das Artes. Vencedor do prêmio Funarte de Teatro 2013, o espetáculo tem a colaboração de Júlia Sarmento, Michael Wehren, artista alemão, e de Stephane Brodt, do grupo Amok Teatro, do Rio de Janeiro. Brodt foi o responsável pela orientação sobre o idioma próprio utilizado na montagem. “Pra essa linguagem o ponto de partida foi o gromelô (substituição de palavras articuladas por configurações de sons), pois a gente viu que o português normal não encaixava na proposta”, explicou Márcio Medeiros, ator do Teatro Máquina.

Uma plateia atenta acompanhou o espetáculo, pleno de momentos de explosão e choque. “Essa peça remete muito ao horror do tempo atual que a gente está vivendo, com a presença ou revelação de ditadores disfarçados ferindo a democracia. Esse estado de violência a gente tem vivido cotidianamente, em diversas instâncias e instituições”, avaliou o ator Edceu Barbosa, que conferiu o trabalho.

 

Por Cristiane Pimentel

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