Os olhares todos para cima, rumo ao topo da pereira de ferros. Das alturas, em meio a frutas gigantes, os artistas falavam versos sobre temas intensos e comuns a todos os povos, como fome, miséria, guerras e morte. Um conto popular espanhol encenado com o auxílio de um equipamento peculiar, a perna de pau, foi a proposta do Núcleo Ás de Paus, do Paraná, com a peça “A pereira da tia Miséria”. O espetáculo foi encenado no dia 16, no Parque da Cidade, em Barbalha.
Com uma contundente elaboração cênica e riqueza de figurino e elementos – até mesmo o uso de uma perna de pau de dois metros de altura para o personagem Morte – a peça conta a história de Miséria e Fome, mãe e filho que se separam pelo mundo. No dia em que deveria ir junto com a Morte, Miséria consegue enganá-la, deixando-a presa na pereira. Cabe então à humanidade perceber as consequências da Fome e da Miséria sem o poder da Morte.
Para a construção do espetáculo, que já conta com mais de 200 apresentações, o Núcleo levou seis meses de trabalhos. A utilização da perna de pau vem de uma pesquisa do grupo para o uso teatral desse recurso. “A perna de pau entrou no espetáculo como parte do estudo dela como prolongamento do corpo do ator. Também queríamos pensar mais no aspecto popular, daí o texto em rimas. A peça é marcada por sua musicalidade e estética visual forte, justamente porque falamos de assuntos bem indigestos, mas de algo, ao mesmo tempo, também muito verdadeiro e que a todos acaba tocando, como a morte, por exemplo”, afirmou Camila Feoli, integrante da companhia teatral.
Apesar dos assuntos densos, o espetáculo, por seu apelo visual hipnotizante, atraiu muitas crianças. Uma delas foi o pequeno Emanuel, que insistia durante a peça junto à sua avó, Maria Cardoso, para ver até o último instante. “Bora, vó, ficar até o final! Tá legal”, disse o menino antes de correr para uma cadeira bem na frente dos atores. À avó, coube desistir da caminhada no parque e acompanhar a programação junto ao netinho. “Estava aqui fazendo minha caminhada e nem esperava essa peça. Achei muito bonita”, declarou.
Por Cristiane Pimentel